segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Contos insólitos: Rennes-le-Château
Em 1885, o abade Béranger Saunière chegou à pequena comunidade de Rennes-le-Château (França). Este religioso fora do comum está na origem de um dos mais formidáveis enigmas do século XIX. Como terá sido possível para este abade de origens modestas empreender trabalhos gigantescos de restauração na igreja de Rennes-le-Château e realizar um grande percurso de vida. Onde terá ele encontrado os valores fabulosos que gastou? Diz-se que encontrou um tesouro escondido na sua igreja.

Béranger Saunière nasceu em 11 de abril de 1852 numa família numerosa com sete filhos em Montazels (no departamento de Aude em França). Ainda muito jovem distinguiu-se pelo seu forte caráter, pela sua independência de espírito e o horror pela hierarquia. Também teve alguns problemas com os seus superiores quando entrou na Igreja.


Foi ordenado padre em 7 de abril de 1879. Tornou-se vigário e depois abade de forma muito rápida, graças à sua grande inteligência. Foi inclusive professor em Narbonne, porém, a sua grande independência de espírito afrontou a sua hierarquia que o exilou na pequena vila de Rennes-Le-Château, onde chegou em 1885. E esse foi o momento de viragem da sua vida e o começo de um enigma que intriga até aos nossos dias.


O primeiro exílio do abade


O abade orgulhoso e devorado pela ambição foi obrigado a mergulhar rapidamente na realidade de uma pequena aldeia com pouco mais de 200 habitantes e de difícil acesso. Como se não bastasse, a igreja da aldeia de Santa Maria Madalena, da qual se deveria ocupar, estava em péssimo estado. Todo o edifício corroído pela humidade ameaçava desmoronar-se, ela estava em muito mau estado. O presbitério onde deveria habitar estava inabitável! Ele teve de se hospedar fora durante alguns meses.


Em outubro de 1885, houve eleições legislativas que revelaram um abade nostálgico da realeza e esperando secretamente o regresso de um rei.



O segundo exílio do abade


O abade ficou em maus lençóis porque, assim que os republicanos ganharam as eleições, o presidente de câmara de Rennes-le-Château escreveu ao ministério das Belas Artes e dos Cultos em Paris para fazer queixa do abade, descrito como um ativista inimigo da República.


No seguimento dessa carta, o abade Saunière foi suspenso das suas funções durante seis meses e privado dos seus rendimentos. Foi enviado como professor ao pequeno seminário de Narbonne, mas não foi substituído na sua paróquia.


Pela sua situação financeira dramática, ele recebeu 200 francos de ouro da parte do bispo de Narbonne e, ainda mais espantoso, uma doação de 1000 a 3000 francos de ouro da condessa de Chambord. Ninguém sabe ao certo a quantia exata.


Ela era a viúva do herdeiro ao trono, o conde de Chambord. Aquela que, caso a monarquia regressasse, seria rainha da França! Esse apoio espantoso a um abade anónimo permanece ainda um enigma.



O retorno do abade às boas graças


Por uma outra razão ainda por explicar, o abade foi reintegrado na sua paróquia mais rapidamente do que o previsto, em 1886.


Em 1887, ele deu início às reparações e às melhorias sumptuosas na igreja e no presbitério graças aos valores que apareciam não se sabe de onde.


Para grande espanto da sua hierarquia eclesiástica e dos habitantes. Existe, porém, uma certeza, não foi com a doação da condessa de Chambord que o abade pôde financiar os trabalhos que atingiram os milhares de francos de ouro!


O mistério começou quando ele dirigia os trabalhos na igreja para substituir o altar e os operários revelaram uma descoberta espantosa. Num dos pilares que sustinha o altar, eles encontraram quatro pergaminhos misteriosos. Não se sabe o que continham, pois ficaram com o abade Saunière.



Descobertas sucessivas


A descoberta dos pergaminhos foi o começo de uma série de descobertas, cada uma mais espantosa do que a outra! Um outro pergaminho foi descoberto no decorrer dos trabalhos de restauro do púlpito numa coluna de madeira. Novamente o abade disse que o mesmo não tinha interesse.


Na manhã seguinte, ele regressou à igreja com trabalhadores e pediu-lhes que colocassem uma laje num local preciso em frente do altar. Eles descobriram que na parte detrás dessa laje se encontrava esculpida uma cena em relevo, que pertencia à época carolíngia e foi chamada de Laje dos Cavaleiros. Representava supostamente Sigebert IV, o rei carolíngio desaparecido misteriosamente após a morte do seu pai, o rei Dagobert II.


Em seguida, o abade Saunière e os trabalhadores descobriram escondido, perto do altar, um pote em argila que continha objetos preciosos. Não pôde ser feito um inventário preciso porque Saunière ficou com eles. Tudo o que sabemos é que esse pote continha, pelo menos, um cálice de grande valor.


De acordo com a história oficial, o abade utilizou o conteúdo desse pote para financiar os trabalhos mais dispendiosos de restauração da igreja.



O abade fechou-se na igreja e no seu segredo


Após essa descoberta, o abade mandou os trabalhadores embora e nunca mais se soube o que se passava na igreja ao nível dos trabalhos. Sabe-se que o abade continuou as suas pesquisas e nada mais.


Ele fez certamente uma descoberta importante. Segundo alguns investigadores, a igreja terá sido construída sobre uma cripta que continha vários túmulos carolíngios e um fabuloso tesouro.


A igreja ficava cada vez mais bonita com os trabalhos que lá se faziam e nos seus arredores, nomeadamente nos magníficos jardins que a rodeavam e tudo isso o abade pagava aos trabalhadores, sem qualquer problema ou atraso! Parece que fez uma descoberta fundamental em 1891, um outro túmulo misterioso que se acreditava ter uma grande importância.



A viagem a Paris


Em 1983, o abade Saunière regressa a Paris para descodificar os pergaminhos que não tinha consigo entender, visto que estavam numa escrita desconhecida.


Seguindo o comportamento de um tal Emile Hoffet, sobrinho do abade Bieil a quem confiou os manuscritos, ele descobriu a vida mundana e artística parisiense. Conheceu celebridades de prestígio, como o poeta Mallarmé, o músico Claude Debussy, o escritor Maurice Maeterlinck e a famosa cantora Emma Calvé de quem se tornou amante!


O abade deslocou-se ao museu do Louvre para adquirir três quadros célebres: Saint Antoine de Téniers Le Jeune, Célestin V, um retrato anónimo do século XIII e Les Bergers d'Arcadie de Nicolas Poussin.


A hierarquia religiosa não quis devolver-lhe os manuscritos por causa do seu valor para a Igreja. Ele voltou revoltado à sua aldeia.


O pastor dos milhões


Não só o pastor decidiu esconder uma parte das suas descobertas como começou a ter um estilo de vida faustoso!


Começou a viajar por vários países da Europa, abriu várias contas bancárias em França e na Hungria, país de origem da condessa de Chambord, a sua generosa doadora!


Não esqueceu a sua igreja, a qual mandou decorar por artistas e artesãos de renome, porém, por vezes com algumas decorações e frescos que não eram católicos e continham símbolos misteriosos.


Adquiriu vários terrenos e ordenou que fossem construídas várias propriedades luxuosas frequentemente registadas no nome da sua amante, Marie Dénarnaud, que se tornou imensamente rica.



O começo do fim para o abade


As pessoas da aldeia começaram a ficar escandalizadas pelos excessos do abade, as suas grandes festas e o seu estilo de vida que não correspondia de todo ao de um abade e homem da Igreja.


A hierarquia religiosa do abade acabou por reagir à morte do seu protetor, o Monsenhor Billiar, bispo de Carcassonne, em 1901.


Perante as recusas repetidas do abade em justificar a sua atitude e a sua fortuna, foi transferido para Coustouge. Acabou por entregar a sua demissão em 1909.


Acusado falsamente de ser pago para dar as missas, um tribunal eclesiástico condenou-o a um retiro de dez dias num mosteiro.


Foi novamente condenado de forma mais pesada no decorrer de um segundo processo. Foi suspenso por desvio de fundos e esbanjamento até que entregasse os fundos que alegadamente teriam sido desviados. Era evidentemente uma acusação falsa.



A guerra de 1914-1918 foi fatal para o abade!


O dinheiro começou a faltar-lhe e ele resolveu vender alguns dos seus bens. Porém, corria o ano de 1914 e ele não conseguia aceder a algumas das suas contas na Hungria, pois este país fazia parte do Império Austro-húngaro em guerra contra a França! E o abade já não podia ir lá!


Cansado, doente e quase na ruína, ele estaria às portas da morte em 17 de janeiro de 1917, quando teve uma crise de apoplexia ou congestão cerebral grave. Sobreviveu, mas foi apenas um pequeno adiamento para ele!


O abade Saunière faleceu em 22 de janeiro de 1917. O abade a quem entregou a sua confissão ficou apavorado com o que escutou e entrou numa fase depressiva. Não podia revelar nada por causa do segredo da confissão.


O abade Saunière guarda no seu túmulo inúmeros segredos que não estão ainda resolvidos sobre o estranho tesouro de Rennes-Le-Château!

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